Força de sustentação de um vórtice

Neste exercício deseja-se estudar a força de sustentação que aparece em quando um vórtice está imerso em um escoamento uniforme. A força de sustentação é a força na direção normal ao escoamento uniforme.

Para desenvolver o calculo de tal força modela-se o campo de velocidade pelo escoamento potencial e aplica-se o conceito de volume de controle para quantidade de movimento.

Primeiro define-se o campo de velocidade pela sobreposição das soluções: escoamento uniforme e vórtice.

Escoamento uniforme

O campo de velocidade induzido pelo escoamento uniforme é definido por

\(\vec V_{uf} = U_0 \hat i\)

Vórtice

O campo de velocidade induzido pelo vórtice é definidor por

\(\vec V_v = -v_\theta sin \theta \hat i  + v_\theta cos \theta \hat j\)

Mas sabendo que a velocidade tangencial é definida por

\(v_\theta = -\frac{K}{2 \pi r}\)

Escrevendo as coordenadas radiais e tangenciais em coordenadas cartesianas, a velocidade induzida pelo vórtice fica:

\( \vec V_v = \frac{K}{2 \pi } \frac{y}{x^2 + y^2} \hat i  - \frac{K}{2 \pi} \frac{x}{x^2 + y^2} \hat j\)

Campo de Velocidade

Pelo teorema da sobreposição das soluções, o campo de velocidades final é a soma dos campos de velocidade induzida por cada escoamento elementar.

\( \vec V = \vec V_v + \vec V_{uf} = U_0 + \frac{K}{2 \pi } \frac{y}{x^2 + y^2} \hat i  - \frac{K}{2 \pi} \frac{x}{x^2 + y^2} \hat j\)

Esse campo de velocidades pode ser usado para calcular a força externa aplicada no escoamento, que por ação-reação é oposta a força aplicada no vórtice.

Volume de Controle

Para melhor aplicar a lei de conservação da quantidade de movimento, define-se um volume de controle que acompanha as linhas de corrente nas fronteiras superior e inferior e na frente e atrás as fronteiras são linhas verticais. Como o escoamento é bidimensional, a integral na superfície será uma constante na direção z, saindo do plano e a dimensão do volume será considerada como w.

Dessa forma o volume de controle fica da forma da figura:

Nas fronteiras onde o volume de controle acompanha as linhas de corrente, a vazão de fluido é zero, logo a integral da superfície de controle é nula. Logo a integral será não nula nas fronteiras frontal e traseira. Para facilitar o estudo, explora-se a simetria do problema em relação ao eixo x=0. Considerando que as fronteiras em questão estão em -x0 e x0, calcula-se primeiro o produto escalar que define a vazão. Na fronteira 1 definida para -x0 :

\( \vec V \cdot d\vec s |_{-x_0} = \left[ U_0 + \frac{K}{2 \pi } \frac{y}{x_0^2 + y^2} \right] w (-dy) \)

Na fronteira x0

\( \vec V \cdot d\vec s |_{x_0}= \left[ U_0 + \frac{K}{2 \pi } \frac{y}{x_0^2 + y^2} \right] w dy \)

Logo nota-se que as vazões são iguais mas com sinais trocados. Por simplicidade então escreve-se:

\( \vec V \cdot d\vec s |_{-x_0} = -\vec V \cdot d\vec s |_{x_0} = -Q dy\)

Aplicando a equação integral de volume de controle para a conservação da quantidade de movimento:

\( \vec F = \rho \int_s \vec V (\vec V \cdot d\vec s) \)

Separando os domínios de integração:

\( \vec F = \rho \int_{x_0} \vec V Q dy - \rho \int_{-x_0} \vec V Q dy\)

Aplicando a integral na direção horizontal e substituindo a expressão para a componente horizontal da velocidade:

\( F_x = \rho \int_{y_1}^{y_2} \left[ U_0 + \frac{K}{2 \pi } \frac{y}{x_0^2 + y^2} \right] Q dy - \rho \int_{y_1}^{y_2} \left[ U_0 + \frac{K}{2 \pi } \frac{y}{x_0^2 + y^2} \right] Q dy = 0\)

Desse calculo nota-se que do vórtice potencial não resulta nenhuma força na direção do escoamento uniforme.

Calculando a componente da força na direção normal ao escoamento uniforme, onde deve aparecer a força de sustentação:

\( F_y = \rho \int_{y_1}^{y_2} - \frac{K}{2 \pi} \frac{x_0}{x_0^2 + y^2} Q dy - \rho \int_{y_1}^{y_2}  \frac{K}{2 \pi} \frac{x_0}{x_0^2 + y^2} Q dy = - \frac{K x_0 }{\pi} \rho \int_{y_1}^{y_2}  \frac{Q}{x_0^2 + y^2} dy \)

E substituindo a expressão para Q:

\( F_y  = - \frac{K x_0 }{\pi} \rho \int_{y_1}^{y_2}  \left[ U_0 + \frac{K}{2 \pi } \frac{y}{x_0^2 + y^2} \right] w \frac{1}{x_0^2 + y^2} dy \)

Que pode ser separado em duas integrais:

\( F_y  = - \frac{K x_0 w \rho}{\pi}  \left[ \int_{y_1}^{y_2}    \frac{U_0}{x_0^2 + y^2} dy + \int_{y_1}^{y_2} \frac{K}{2 \pi } \frac{y}{(x_0^2 + y^2)^2}  dy \right]  \)

É mais conveniente analisar as integrais separadamente. Considerando, por simplicidade, y2=-y1=y0 e avaliando a primeira, resulta:

\( \int_{-y_0}^{y_0}    \frac{U_0}{x_0^2 + y^2} dy =  \frac{U_0}{x_0} \left[ \arctan\left(\frac{y_0}{x_0} \right) - \arctan\left(\frac{-y_0}{x_0} \right) \right] =  \frac{U_0}{x_0} 2 atan\left(\frac{y_0}{x_0} \right)\)

A avaliação da segunda integral resulta:

\( \int_{-y_0}^{y_0} \frac{K}{2 \pi } \frac{y}{(x_0^2 + y^2)^2}  dy = -\left[ \frac{K}{2 \pi }  \frac{y}{2(x_0^2 + y^2)} \right]_{-y_0}^{y_0}  = 0 \)

Logo apenas a primeira integral contribui para a força vertical. Como o arco tangente é uma função assintótica, aplica-se p limite quando y1 vai a infinito:

\( \lim_{y_0 \to \infty} \frac{U_0}{x_0} 2 \arctan\left(\frac{y_0}{x_0} \right) =  \frac{U_0}{x_0} \pi \)

Dessa forma, a componente vertical da força por unidade de profundidade fica:

\(\frac{F_y}{w}  = -  \rho U_0 K\)

e a força no vórtice, a de sustentação

\(Fsust/w  =  \rho U_0 K  \)

Essa relação é conhecida como teorema de Kutta-Joukowski e relaciona a circulação causada por um objeto com a força de sustentação.

Última atualização: Tuesday, 3 Nov 2015, 13:50